domingo, 25 de dezembro de 2022

eu e meu antigo problema com cadernos

Eu tinha um problema com cadernos: tinha muitos.

Havia uma parte do meu guarda-roupa separada só pra guardar meus cadernos. Eu costumava usar um caderno para tratar de cada assunto: tinha o caderno dos rabiscos, o dos poemas, o das anotações; cadernos só pra escrever histórias, contos, ideias para filmes; cadernos para escrever os roteiros dos filmes que saiam do caderno das ideias. E tinha os cadernos de anotações: um pra anotações gerais, um para anotar sonhos e um caderno só pra passar as anotações a limpo.

Costumo andar sempre com um caderninho no bolso e anotar coisas que acho dignas de nota. Para não esquecer das coisas que anoto nos caderninhos comecei a passar o conteúdo deles a limpo num dos cadernos que guardava em meu guarda-roupa. Mas eu não os jogava fora. Então eu também tinha uma caixa cheia de caderninhos.

Eu e meu antigo problema com cadernos.

Acho que o maior problema era pensar que um dia eles poderiam ser a solução.

Em um dia ensolarado de verão eu resolvi o problema: peguei minhas caixas de cadernos, arranquei as folhas uma a uma e queimei tudo. Todos aqueles sentimentos reprimidos, todas aquelas interpretações antigas de mundo, todas aquelas ideias que apodreceram antes de madurar, a fumaça subia e transmutava tudo numa espécie de ritual de purificação.

Tudo, menos algumas coisas que eu fiz questão de anotar num caderno novo antes de queimar os antigos. Agora tenho só um caderno onde guardo tudo que acho digno de nota: sonhos, fotos, notícias, coisas intrigantes, diálogos marcantes, coisas diferentes, anotações de direção, relatórios de filmagem, ideias que jamais serão filmadas...

Eu ia queimá-lo também, mas vai que um dia ele seja a solução.

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